O desafio que a COP29 representa para as empresas espanholas

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  • Este especialista analisa o impacto que as decisões adoptadas no âmbito da COP29 podem ter nas empresas espanholas.

Nos últimos anos, a sustentabilidade passou de um conceito aspiracional para uma das principais prioridades globais. Há poucos dias, durante a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP29), os países concordaram em atribuir 290 mil milhões de euros para ajudar as economias em desenvolvimento a reduzirem as suas emissões e a juntarem-se ao esforço coletivo contra as alterações climáticas.

Embora o orçamento aprovado tenha sido criticado – alguns países consideram-no insuficiente para o fim a que se destina -, o seu impulso responde, em grande medida, ao objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C, um objetivo estabelecido no Acordo de Paris e definido como uma prioridade pela União Europeia no seu compromisso com a neutralidade climática. No entanto, este compromisso pinta um quadro incerto para muitas empresas que, apesar da sua capacidade comprovada de gerar riqueza, baseiam o seu modelo de negócio numa prática que ainda está longe deste objetivo.

O organismo continental anunciou investimentos no valor de 4,8 mil milhões de euros através do seu Fundo de Inovação para impulsionar cerca de 100 projectos destinados a reduzir as emissões na região. Prevê-se que estes projectos estejam concluídos até 2030 e que reduzam até 476 milhões de toneladas de CO2 durante a sua primeira década.

Neste quadro, e fora dos planos de estímulo, a UE pretende ir mais longe e aplicar sanções financeiras às empresas que não cumpram os quadros regulamentares estabelecidos. O Mecanismo de Ajustamento das Emissões de Carbono nas Fronteiras (CBAM), aprovado em 2023, obriga as organizações, independentemente da sua dimensão, a declarar as suas emissões de CO2 provenientes da produção de bens importados.

Estas declarações serão traduzidas num certificado com as toneladas de CO2 registadas, com base no qual as empresas terão de pagar de acordo com o valor médio do leilão semanal de licenças de emissão.

É inegável que o tecido industrial europeu está a tomar medidas para se adaptar ao modelo verde de Bruxelas. No entanto, há também uma série de questões que se colocam e que apontam diretamente para a vertente económica da questão: como podem as organizações transformar dinâmicas de produção consolidadas ao longo de décadas sem perder rentabilidade?

Para muitos actores empresariais, a resposta pode não ser tão óbvia. Para alguns, inclusive, o binómio sustentabilidade-benefício pode parecer uma quimera.

Este facto, no caso específico de Espanha, convida muitas empresas a acelerar o processo de adoção de dinâmicas sustentáveis, a fim de evitar sanções. Porque os dados são um indicador claro de que estamos atrasados em relação a outros países no que diz respeito ao nosso ambiente.

O último relatório do Eurobarómetro PME, por exemplo, revela que 59% das pequenas e médias empresas do país – predominantes no nosso tecido – não têm estratégias para reduzir a sua pegada de carbono e nem sequer planeiam implementá-las.

Embora possa parecer demasiado complexo, a adaptação ao novo quadro não exige grandes mudanças. O primeiro passo tem a ver com o conhecimento da tua situação. Aqui, a medição surge como a pedra angular de qualquer estratégia empresarial eficiente.

Para determinar com precisão o CO2 gerado por uma organização, é útil confiar em agentes acreditados para avaliar as emissões em três âmbitos: emissões diretas geradas pelo consumo de combustível; emissões indirectas da energia comprada; e um compêndio de emissões indirectas ao longo da cadeia de valor.

No caso de alguns sectores, como a agricultura – responsável por 1,7% do PIB da UE – até há pouco tempo não existiam instrumentos capazes de medir com precisão.

Esta necessidade levou ao aparecimento de alternativas tecnológicas inovadoras como o Arima ESG Tech, recentemente certificado pela Aenor como o primeiro calculador de pegada de carbono do mundo concebido especificamente para o sector. A ferramenta permite ainda maximizar as compensações ambientais, o que reforça o seu carácter pioneiro.

A transição para uma cultura empresarial ecológica não deve, contudo, depender exclusivamente da iniciativa privada. As instituições têm um papel fundamental a desempenhar neste processo, incentivando as empresas no âmbito dos novos planos. Alguns países, como a Espanha, souberam detetar a oportunidade, adoptando um papel ativo na captação de projectos.

O último exemplo disso é o Conselho de Ministros, que anunciou este ano uma ajuda de 794 milhões de euros para sete projectos de hidrogénio renovável em Aragão, Andaluzia, Astúrias, Castela-La Mancha, Múrcia e País Basco.

Casos como estes demonstram que, independentemente dos constrangimentos regulamentares que possam surgir, a sustentabilidade surge como um objetivo estratégico em si mesmo: é um investimento num futuro que pode trazer múltiplos benefícios. A economia circular está a ganhar terreno como um modelo de negócio viável e as empresas que se adaptarem à sua lógica estão numa posição privilegiada. Em termos de mercado, fazê-lo significa começar a competir pelo resultado final de amanhã.